Era um tempo bom, onde se ouvia rumores de guerras distantes, os americanos pra nós faziam os bonzinhos e os iraquianos a turma do mal, chefiada pelo Saddam. Era apenas essa a nossa informação do mundo em plena guerra do Golfo.
Ninguém queria ser bandido nas nossas intermináveis disputas, era chato, nas nossas mentes ainda cândidas a polícia tinha que ganhar, prender, botar na cadeia e surrar com covardia os atos maus.
As ruas eram povoadas por nós, meninos na rua, correndo, escondendo atrás dos postes, matando passarinho com o badoque, mexendo com os loucos do sanatório, brigando por tudo, azucrinando a vida dos pais, roubando as hótias da paróquia, saqueando as árvores de frutas, sorrindo, conhecendo a vida.
Vivi a minha infância inteira no casarão da minha avó, que recebia em tempos de festas dezenas de pessoas o que fazia da casa pra mim o centro do universo, tinha no meu entendimento dimensões inacabáveis, um castelo onde eu era o mordomo, cercado de tias, primas e primos, do irmão mais velho, das avós adoentadas na cama, e dos agregados que chegavam de todos os cantos.
Foi meu reino encantado, onde construí os meus mais ricos sonhos de criança, ser pirata, astronauta, mergulhador do oceano, aventureiro, ser grande.
Se todo menino é um rei, eu também já fui rei.
#Domingo no parque - Gilberto Gil
Um comentário:
Bateu uma saudade da infância agora...
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