segunda-feira, 9 de agosto de 2010

[fragmentos] tempos de discórdia e luar I


Dois corpos unidos num único tempo e espaço, guardando consigo um segredo. Eles podiam voar.

Se conheceram numa tarde ensolarada de verão, quando ela caminhando até a praia molhou delicadamente os pés, com os olhos fechados, braços abertos pro céu, rodou freneticamente esvoaçando o longo vestido, agradecia em silêncio aos deuses a maravilha que era respirar.
Ela encontrou um olhar dele pousado sobre si, junto a uma admiração que não se pôde esconder, sorriu acanhada retribuindo a alegria do olhar.
Já haviam se visto várias vezes, os olhos pareciam já habituados um ao outro, pela primeira vez se falaram naquela tarde.
As palavras que no princípio pareciam tímidas e mal saíam da boca, em pouco tempo se tornaram grandes, impactantes, belas de serem ouvidas, o sotaque francês dela enchia de charme o flerte dos dois jovens, caminharam na praia sem que se precisasse dar ordem aos pés, não tinham mais domínio sobre os movimentos, sobre as intenções e sobre o gesto.
Em meio a uma enxurrada de coisas que indicavam uma semelhança de pensamentos, e uma certeza de que o acaso os unira, param de repente, por um instante o tempo também parou, e somente se olharam.

#O seu olhar - Arnaldo Antunes

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