Engraçado como somos fiéis aos escolhidos pelo cupido quando criança, o nome da minha amada era Fernanda, a menina por quem tive minhas primeiras alegrias por gostar de alguém, e também as sensações iniciais de que o amor tem o secreto defeito de nem sempre ser escrito na mesma intensidade, a reciprocidade nunca é a mesma por mais que exista o afeto.
Era eu apenas mais um nas aulas de português e matemática, sempre com os olhos postados na cadeira da frente, porque sempre soube que lá estaria ela, minha paixão, primeira da turma e disparada a mais linda da escola. Estávamos nós na terceira série e minha timidez fez com que eu nunca lhe dirigisse a fala nos primeiros anos, não tinha a segurança de lhe mostrar carinho e eu era só um menino tateando as primeiras experiências de vida, com o entusiasmo de alguém que quer engolir o mundo.
Tinha uma intranquilidade absurda, não parava quieto e frequentava tanto a diretoria quanto os bagunceiros do recreio. Até que um dia, a professora Marleninha, amiga até hoje da família, gritou comigo palavras ásperas de forma doce, me educando com severidade e me dando um castigo que até hoje agradeço. Não me recordo com quais palavras, mas em síntese, me obrigou a deixar o fundo da sala de aula, sentar na primeira fileira, e não me levantar por nada, a não ser que houvesse a sua autorização. Me disse também pra tomar os alunos bons como exemplo e pelo resto do ano dividi a carteira com Fernanda.
A partir daquele instante pude ver que o "crime" pode compensar em muitos instantes, passei a esquecer todos os dias os livros em casa, assim poderia acompanhar a aula pelos livros dela e pude ouvir pela primeira vez dirigida a mim a voz que faz eco até hoje nas minhas melhores lembranças de criança. Ela me dizendo que sempre quis que eu sentasse ao seu lado.
#At Last the Secret is Out - Carla Bruni
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