quarta-feira, 28 de julho de 2010

Anseios


Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!...
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não estendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!...

(Florbela Espanca)

Um comentário:

Jân Bispo disse...

Não conhecia a poesia e nem a poetisa, foi uma grata surpresa, linda a maneira como as palavras foram postas, e o sentido do poema se define com uma delicadeza perfeita. muito bom! abraços!